Khorium: groove, metal e mensagens ácidas – A trajetória contínua de uma banda brasileira alinhada com sua ideologia

Aliando peso, groove, riffs de guitarra de metal, baixo funkeado, bateria groovada e junto a tudo isso os vocais intercalados com guturais e fraseados inspirados no Rap, esse é o Khorium, uma banda genuinamente brasileira oriunda de Volta Redonda/RJ na ativa desde 2017.

Em um cenário no qual muitas bandas ficam em cima do muro para fantasiosamente aderir mais público, o Khorium tem sua ideologia bem clara e acidamente explicita. Tanto que a nomenclatura da banda é inspirada no elemento ‘Corium’ que é altamente tóxico, radioativo, contaminante e mortal, gerado da explosão de núcleo em reatores nucleares, como por exemplo Fukushima e Chernobyl.

Já em seu primeiro ano de existência, deu vida ao single ‘Quem Vai Pagar’, música essa que participou de muitas coletâneas à época em questão, lembrando que em 2017 foi um dos anos mais caóticos no país politicamente falando e a dúvida era, Quem Vai Pagar?

Na sequência em 2018, a banda deu vida ao seu primeiro trabalho e lançou ‘Manual Prático do Brasil’ com cinco faixas. A capa do ilustrador Rogério Fortes, que foi distribuído nacionalmente em material físico, inclusive sendo encartado na revista Mosh Fanzine n.18. Uma das faixas mais emblemáticas do EP em questão, foi ‘Midiocracia’, que além de participar de coletâneas, recebeu um videoclipe temático ilustrando a real face da midiocracia nacional.




Em 2019 algumas mudanças na banda e em sua formação, o Khorium lançou o álbum ‘Idiocracia Tropical Contemporânea” que trouxe nove faixas de altíssimo direcionamento e questionamento político. Desta vez a responsável pela distribuição do material físico foi a excelente ‘Shinigami Records’. O álbum contou com as participações especiais de Luan Haddad (vocalista do Comboio Calibre) na faixa ‘Negue’ e de Fernanda Lira (vocalista e baixista do Crypta, à época ainda no Nervosa) na faixa ‘Ainda Assim Eu Me Levanto’. As músicas que receberam videoclipe foram ‘Quem é Quem’ e ‘Silenciar’, alimentando ainda o padrão de lançamentos do Khorium na qual sempre investiu no material audiovisual.

Tendo após o último lançamento uma pausa forçada devido ao coronavírus em 2020-2021, a banda gravou de forma remota o álbum ‘Forças Opostas’ com capa ilustrada desta vez pelo ilustrador Paulo Kalvo e lançado nas plataformas de streaming. As participações do disco foram de MC Fellipin na faixa ‘Mercadores da Fé’ de Tatto Paschoal (Gollira Rap) na faixa ‘Punhos Erguidos’ e de Jimmy London (Matanza Ritual, Jimmy and The Rats) em ‘Muito Fala Nada Faz’. Mas a participação especial no disco foi do baixista Jeffin Rodigheri que ocupou a lacuna deixada da banda após a saída do até então baixista da banda. Após a finalização dos processos de gravação, o Khorium contou com a entrada ilustre de Clarice Roberta que deu um toque de profissionalismo e dedicação à banda junto a G. Moreira (guitarra e voz) e Shalon Webster (bateria) sendo o trio que compõem e leva o nome do Khorium em meio às dificuldades do cenário independente.

Em fevereiro de 2022 o Khorium apresenta-se no Estúdio ShowLivre e a gravação desta foi lançada como ‘Khorium Ao Vivo no Estúdio ShowLivre’, sendo seu primeiro disco ao vivo e sem falar que o mesmo está disponível no YouTube em formato audiovisual também o que engrandece e enriquece o trabalho da banda, podendo ser notório o Groove, peso e a sonoridade ímpar do Rapcore/Metal da banda com peso, melodia e temática com sua mais pura acidez. E para quem acha que o ano acabou se engana, já que a banda trabalha em estúdio o lançamento do seu futuro disco ‘A Plenos Pulmões’ com previsão de lançamento ainda em 2022. O álbum contará com doze faixas e traz novamente uma parceria com o ilustrador Rogério Fortes, na qual já tem assinatura em outros trabalhos junto à banda.

Khorium é corrosivo, ácido e groovado. Traz consigo infinitas participações e parcerias musicais, mas o mais importante é não se calar e utilizar da arte para se manifestar sobre suas visões.

A banda ao vivo no Showlivre:

Veja abaixo, a entrevista que fizemos com a banda:

Khorium sempre teve seu direcionamento, é importante uma banda hoje em dia saber seu lado e saber sua temática desde o início? No nosso caso a mensagem tem muito peso sobre as escolhas que fazemos. Então colocamos a mensagem em primeiro lugar. Por isso cantar em português, mesmonque isso nos limite aos países lusofonos. A Khorium é uma banda em que as letras recebem tanta dedicação quanto a parte instrumental.

Mudanças na formação são sempre o que atrasam o trabalho, como lidar com recomeços em novas formações? No nosso caso todas as mudanças até hoje ocorreram de forma amigável e por integrantes mudando-se para cidades distantes. Coincidentemente trocamos de baixista por duas vezes nesses anos. Mas entendemos que a banda precisa continuar firme e se reinventar a cada mudança dessa. E tem o lado positivo de incluir novos olhares e influências. Quem chega sempre agrega novas influências, e somos muito gratos a todos que passaram pela banda até hoje.

A banda é oficializada como trio, mas em shows como o Estúdio Show Livre apareceu como quarteto, como funciona as apresentações ao vivo? Por uma questao de praticidade, e por poder me dedicar exclusivamente aos vocais com mais atenção, usualmente contamos com um guitarrista convidado para os shows. Mas a banda sempre se manterá como trio, principalmente nos materiais gravados. A formação de trio funciona bem numa série de aspectos.

O novo trabalho ‘A Plenos Pulmões’ é um dos poucos que não teve prensagem física, foi alguma logística por causa dos outros discos? Nós tivemos prensagem física dos primeiros trabalhos, e a partir do “Forças Opostas” já ficamos apenas no digital. Principalmente naquele momento de pandemia, etc. Nós gostamos do formato físico e é provável que a gente retome em algum momento, mas desde que as condições sejam favoráveis. Sabemos que a demanda existe ainda para esse material, mas ao mesmo tempo, precisamos que seja viável investir nesse modelo. Principalmente no que tange a distribuição. Talvez em algum momento a gente lance algo especial, box, ou algo do tipo. A ideia ainda está em avaliação. Não descartamos por completo não.

Importância de investir no próprio trabalho, qual a visão de vocês sobre investir na carreira? É uma questão de crença. O artista precisa primeiro de tudo acreditar no próprio trabalho. Só investe quem acredita. Mas ao mesmo tempo é importante saber como fazer esse investimento. Tem muita coisa no caminho que é mera distração e não vai trazer resultados pro músico. Conhecimento de como funcionam as engrenagens do music business é importante. Senão o esforço se perde pelo caminho.

Mulheres no metal estão cada vez mais em alta, ganhando seu merecido espaço e a Clarice é uma das excelentes musicistas do cenário. Como é contar com ela na Khorium? Clarice entrou em um momento complicado da banda, onde tínhamos ficado sem baixista justamente antes das gravações do álbum anterior, no meio da pandemia. Gravamos o “Forças Opostas” à distância, e com um baixista convidado, e só então com o álbum pronto pudemos com calma conseguir substituição. Nos conhecemos desde muito tempo na cena local, e podemos dizer que ela trouxe uma nova abordagem para o groove da banda. Além de toda a visão melódica que ela traz da vivência com música clássica que é um elemento novo na Khorium. Clarice é integrante da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem, o que referenda o quão habilidosa e virtuosa ela é no instrumento. A primeira gravação dela com a Khorium, no “A Plenos Pulmões” já mostra o salto nas composições em termos de melodia, etc.

As composições da banda deram uma pausa após o recente disco ou já estão trabalhando para um próximo lançamento? Temos algumas ideias em ebulição no momento, mas ainda não paramos para organizar isso, devido à rotina de shows, etc. Mas a banda já tem um cronograma de começar a trabalhar em material novo no início do próximo ano. Estamos solidificando alguns conceitos que queremos explorar. Normalmente o conceito nasce antes mesmo da parte musical.

O cenário estão cada vez melhores em boa parte do país, como tem funcionado o cenário na região fluminense e se tem algumas bandas da região para indicar? A cena local é vibrante e diversas bandas novas tem surgido, coletivos novos organizando eventos, etc. Realmente é um momento positivo. Não posso deixar de citar a Comboio Calibre, banda de post-hardcore de Volta Redonda, o Rottenblot que é metal bastante pesado e vai agradar muita gente, e os novatos do Morthe, que estão preparando seu primeiro trabalho.

Pegando um gancho sobre o cenário, como vocês veem o cenário ao todo? A Khorium tem proximidade com bandas de outros estados e como funciona os feat que a banda faz? A gente circula bastante no cenário nacional, temos bons contatos de norte a sul do país, e boa relação com bandas de todo canto, pudemos participar de coletâneas até com bandas de fora do Brasil. Quanto aos feat nós temos essa tradição que vem do rap, com as cyphers, etc. e para nós é uma forma de reconhecer e homenagear alguém quem admiramos, e muitas vezes também abrir espaço para misturar públicos diferentes como rap e metal. Tivemos a honra de contar com grandes nomes conosco desde o primeiro álbum, como Fernanda Lira, Jimmy London, Clemente, etc. Além de trazer para o publico do metal nomes do rap como Felipin, Gollira Rap, Deivin, etc. É algo que gostamos de fazer, e sempre que pudermos vamos continuar fazendo.

Pensam em lançar alguma coisa ainda este ano? Visto que a Khorium é uma banda que lança bons videoclipes e lyrics. Obrigado! O “A Plenos Pulmões” já possui além do vídeo clipe de “Monopólio da Violência” que conta também com versão com LIBRAS, outros cinco lyric vídeos, todos feitos pelo amigo Ruy Araujo, do Motim Underground, parceiro de longa data. Para este ano o plano é finalizar a agenda de shows, e preparar para logo na virada do ano começar os trabalhos no material novo, então vamos colocar a energia nessas datas de fechamento, e no início de 2024 vem o processo criativo.

Obrigado por toparem a entrevista e se puderem nos contar para finalizar, como foi o ano de 2023 até aqui e o que planejam para 2024? Nós que agradecemos muito pelo espaço e pela oportunidade da entrevista. O ano de 2023 foi bastante agitado, com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e parece que passou voando até aqui. Em 2024 voltaremos com material novo, nova tour, e mais material. A ideia é não parar nunca! A Khorium é imparável!

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Redação

Redação

Neder de Paula é fundador, CEO do portal e web rádio OverRocks. Designer, webdesigner, videomaker, apaixonado pela família, quadrinhos, cinema, tv, UCM, DCU, metalhead desde os 12 anos e curador musical na Divulguei e Groover.