Guitarrista brasileiro Wagner Gracciano faz a “América” produzindo música de qualidade

Wagner Gracciano é um aclamado compositor, produtor e guitarrista brasileiro com uma trajetória vencedora. Em 2013, Wagner lançou seu primeiro álbum solo, “Across the Universe”, recebendo elogios da crítica especializada nacional e internacional. Inspirado pela recepção positiva de seu trabalho, Wagner se mudou com a família para os Estados Unidos em 2016, sendo reconhecido com os prêmios de “Música Internacional” e “Produtor do Ano” no Prayze Factor Awards. Recentemente lançou o segundo álbum, The History of Mark Beck, temas contemporâneos como depressão e a ascensão e queda de líderes ideológicos, combina estilos variados como blues, R’n’B, Soul, Hard Rock, Heavy Metal e Rock Progressivo. Conheça mais sobre este talentoso músico brasileiro que está realizando o sonho americano.

Wagner, você tem uma carreira promissora, seja nos palcos, como professor, produtor e compositor. Conte-nos sobre sua trajetória no Brasil, quando iniciou na música, influências e inspirações.

Iniciei ainda criança quando morava numa pequena cidade chamada Arapuá, em Minas Gerais, sou nascido em Goiânia, mas fui muito criança para Minas. Comecei a me interessar por música ouvindo os discos do meu pai, que tinha uma coleção muito, mas muito eclética mesmo. Comecei como autodidata e em muito pouco tempo comecei a tocar em igrejas, que foi a minha primeira escola. Logo com 14 anos já de volta à Goiânia comecei a dar aulas e tocar mais profissionalmente, daí fui trabalhando muito e sempre estudando. Na faculdade fiquei amigo do saudoso maestro Jarbas Cavendish que me instigou a estudar harmonia e música brasileira, além de Pedro Martelli, meu professor de violão erudito. Foram duas escolas que abriram meus horizontes. Isso sempre me empurrou para composição, que é minha grande paixão e também a ser muito eclético, não por imposição ou vontade de mostrar uma erudição, mas porque realmente gosto e sou influenciado por todo tipo de música. Se for falar de todas as minhas influências ficaria horas falando, mas dando uma pequena pincelada, comecei com The Beatles e Dire Straits, minhas duas principais inspirações do início. Mas logo fui para os clássicos Led Zeppelin, Rush, Pink Floyd, Deep Purple, Van Halen, isso no rock. Mas junto com isso veio Toquinho, Tom Jobim, Milton Nascimento, Flávio Venturini, Bach, Paganini, Debussy, Joaquim Rodrigo, Pat Metheny e muitos, muitos outros. Aí teve a fase adolescente fritador do Dream Theater, Mr Big, Steve Morse Band, do fusion com Allan Holdsworth, Al Di Meola, Scott Henderson, Chic Corea. Enfim, disse que ia falar um pouco, mas nem cheguei no country, jazz tradicional, folk, r’n’b, mas isso é um resumo do resumo.

Em 2013 você lançou “Across the Universe”, seu primeiro trabalho solo, que surpreende pela qualidade da produção, arranjos e músicas. Como você avalia a repercussão perante público e mídia especializada? Quais aprendizados adquiriu com o disco?




Graças a Deus o pessoal gostou, e dentro das limitações do estilo teve uma ótima repercussão. Eu sei que é um álbum difícil que abrange muitos estilos, mas é o jeito que sei fazer, então na minha vida resolvi não brigar com isso. Aprendi muito o que não fazer como produtor, arranjador e na parte técnica. Foi um aprendizado fundamental na minha vida e que também abriu portas, inclusive para me mudar do Brasil.

Em 2016 você mudou para os Estados Unidos. Foi uma decisão difícil sair do Brasil com esposa e filhos, se adaptar a um novo país, outro idioma, assim como cultura? Para um músico e produtor musical, quais vantagens em residir em Atlanta?

Sim, foi muito, muito difícil. Até que, me adaptar com a cultura não foi o problema porque eu já vim muito aberto para isso. A língua foi uma barreira no começo, mas graças a Deus não me impediu de avançar, a gente dá nosso jeito. Mas sair do conforto do seu país é muito, muito complicado, principalmente com a família. Da mesma forma, não adianta reclamar da falta de oportunidades, se você não estiver no radar delas vai ficar estagnado. Atlanta tem muitas vantagens que vou explicar na próxima pergunta.

Muitos brasileiros, ao mudar para os Estados Unidos, se fixam na Flórida, porque escolheu morar em Atlanta? Há um cenário favorável para brasileiros na cidade?

Geralmente os brasileiros que se fixam na Flórida fazem por causa de trabalhos como construção, house cleaner, etc, para música é péssimo. Como minha ideia era viver exclusivamente de música, tive outros critérios para escolher, apesar de que Atlanta é mais próspero nessas outras áreas também. Eu tinha três opções principais: Los Angeles, Nashville e New York. Todas essas cidades são mais competitivas e direcionadas. Los Angeles e New York, para a família, é mais complicado, são cidades absurdamente caras, com menos segurança, piores escolas e subúrbios, e esse era o principal ponto que tinha que avaliar, pois eu não estava indo sozinho. Atlanta tem várias vantagens que geralmente passam despercebidas. Aqui está perto o suficiente de Nashville para entrar no circuito de lá, tem uma cena R’n’b muito forte, sendo uma das principais dos EUA. É considerado o Christian Belt (cinturão cristão) dos EUA, que também é um mercado forte que estou no meio. Tem uma cena musical ao mesmo tempo muito intensa e com menos competição. Aqui é uma cidade que circula muito dinheiro, pois é o grande centro de conexões dos EUA por causa da Delta e várias empresas gigantes que têm suas centrais de distribuição aqui como a Amazon. Para você ver, aqui tem o aeroporto mais movimentado do mundo. Outras vantagens é que ainda tem um subúrbio que tem um clima de cidade interiorana, tirando a parte central, é mais segura, custo de vida mais baixo, melhores escolas, ótimas opções de lazer para família, ou seja, é uma cidade que os músicos não exploram, mas pra mim hoje é a melhor opção.

O novo álbum, “The History Of Mark Beck”, é um trabalho conceitual que narra a história do personagem fictício Mark Beck. Como foi pra você se expressar escrevendo letras? Conte-nos mais sobre a criação do conceito e objetivos da história.

Para mim foi um prazer e um aprendizado. No primeiro disco eu queria ter feito isso, mas ainda não tinha confiança nas minhas letras. É um personagem que ao mesmo tempo critica instituições religiosas ou até políticas que usam de pautas ou necessidades legítimas das pessoas para o mal, tudo dentro da ótica cristã. Estou querendo ao mesmo tempo criticar, mas tentar mostrar que existe sim um caminho, inclusive para quem é usado para fazer o mal. Então de certa forma o disco se divide em duas partes, a queda do personagem Mark Beck para o mal e sua redenção para o caminho do bem.

Wagner, além de escrever as letras, compôs todas as músicas, criou arranjos, gravou guitarras, violões, baixo e sintetizadores, além de produzir o álbum. São muitas funções. O processo de criação e produção foi longo? É confortável para você acumular várias funções? Como selecionou os músicos convidados?

Eu sou meio controlador com minha música. Quando componho já meio que faço tudo sem nem ver. Quando termino a pré vejo que não deixei quase nada para os outros. Isso é ruim porque cansa e deixa o processo longo. Comecei esse disco há 9 anos, logo após os Across The Universe, mas por causa da mudança, outros projetos e ter que correr atrás de me firmar como músico aqui nos EUA, deixei uns 6 anos parado. Depois fui voltando aos poucos.

“The History Of Mark Beck” traz uma incrível lista de músicos que participantes, inclusive dois nomes reconhecidos no cenário do metal brasileiro: Carlos Zema (Immortal Guardian, Heavens Guardian) e o produtor Adair Daufembach (Angra, Kiko Loureiro, Project 46, Tony MacAlpine). Como foi trabalhar com todos esses feras e qual contribuição eles trouxeram ao álbum?

Escolhi os músicos de acordo com o som que eu queria. Quando escolho alguém para trabalhar comigo quero que ele venha com seu som. Então cada escolha foi baseada nisso. Pude contar com grandes cantores como o Cleveland, que é uma lenda do R’n’b aqui de Atlanta, e o Carlos Zema, amigo muito antigo que está no circuito do metal com o Immortal Guardian e vários outros projetos. Contei também com amigos que sempre tocam comigo, como o Roberto Milazzo, André Tavares, Foka, Estevão Silva, Ismael Ramos, além de três lendas de Nashville, o Charles Judge, Michael Webb e Alex Wright. Como sempre, a mixagem fica com o Adair Daufembach que além de amigo conhece meu som como ninguém. Isso tudo enriqueceu muito o trabalho.

Antecedendo ao lançamento do “The History Of Mark Beck” você disponibilizou as músicas “The Ceremony” (2022), “The Swing (Mark Beck’s Preface)” (2022) e “I’m Here” (2023), incluindo vídeos no YouTube. Como você avalia este formato? Funcionou pra você? Pretende lançar novos singles?

Comercialmente funcionou, mas artisticamente não. Como é um disco com uma história do começo ao fim, escutar as músicas isoladamente fica um pouco fora do contexto e a letra às vezes perde o peso narrativo. Eu sei que infelizmente as coisas mudaram e ninguém escuta disco mais, ninguém tem tempo, mas não consigo não ser fiel ao meu conceito artístico. Às vezes para mim é meio difícil se adaptar com essas mudanças. Mas sim, não vou brigar com o mercado e no futuro posso lançar singles, vamos ver o conceito do próximo álbum.

“The History Of Mark Beck” é um trabalho que surpreende ao apresentar inúmeras participações, o que talvez seja um desafio levar para os palcos. Você planeja realizar shows em divulgação ao álbum? Quais seriam as dificuldades para um artista independente realizar shows/turnê nos EUA?

Em qualquer lugar do mundo os problemas são o custo e a viabilidade. Para levar o álbum na íntegra para o palco eu precisaria de umas 12 pessoas. No cenário de hoje isso é só para artistas muito grandes. Vamos ver a demanda, eu não tenho coragem de montar uma banda para passar perrengue. Todo mundo que toca comigo já passou dos 30, então a empolgação de passar um rala na estrada por idealismo já passou. Talvez essa seja uma grande tristeza para mim, não ter feito tudo no tempo do tudo ou nada, da empolgação dos 20 e poucos anos. Mas a vida é assim.

Wagner, parabéns pelas composições, arranjos e produção. “The History Of Mark Beck” é excelente! Desejamos que as pessoas escutem o álbum e valorizem os talentos brasileiros. Deixe uma mensagem aos nossos eleitores e também como podem conhecer seu trabalho.

Muito obrigado, fico muito feliz por ter gostado. Espero que todos escutem e principalmente entendam a mensagem e passem bons momentos apreciando música. O disco está em todas as plataformas de streaming e estou começando a lançar vídeos sobre as músicas, solos com tablaturas e tudo mais. Me sigam nas redes sociais, só procurar Wagner Gracciano e no YouTube. Muito obrigado pela entrevista, paz a todos!





Link curto da publicação: https://overrocks.com.br/e7cp