Falso Morel transcende fronteiras sonoras em seu novo EP “Morrer pra Renascer”
Primeira parte de uma trilogia, o novo trabalho da banda mineira mistura alt rock, shoegaze, indie e… shakuhachi japonesa?
A cena independente de Belo Horizonte está em ebulição, e um dos nomes mais promissores desse movimento acaba de cravar mais um passo ousado e autoral em sua trajetória. Depois de conquistar ouvintes em 138 países com o disco de estreia Distopia em Pindorama — que ultrapassou a marca de 90 mil streams — a Falso Morel abre 2025 com Morrer pra Renascer, um EP conceitual, inventivo e surpreendente. Lançado nesta quinta-feira, 17 de abril, o trabalho é o primeiro de uma trilogia que promete redesenhar as linhas do rock alternativo brasileiro.
A proposta da banda vai além das experimentações comuns ao universo do alt rock, indie e shoegaze. Em Morrer pra Renascer, o grupo mineiro incorpora ao seu instrumental tradicional (guitarras, baixo, piano e bateria) uma presença inusitada: a shakuhachi, uma flauta de bambu japonesa ancestralmente ligada à meditação e ao zen budismo. O resultado é um som que une oriente e ocidente, introspecção e explosão, tradição e modernidade com frescor e ousadia.
“A shakuhachi é a flauta mais difícil de tocar no mundo, usada em templos budistas e meditações tradicionais. Trazer esse instrumento pra dentro do nosso som foi um desafio gostoso, que trouxe uma mistura dançante, única e cheia de identidade”, explica Gabriel Pazini, vocalista e principal compositor da banda, que também assina guitarras, violão, piano e a própria shakuhachi no disco.
Com quatro faixas — “Baú de sonhos”, “0402”, “Estações” e “Alcatraz” — o EP é uma viagem poética e sonora que narra ciclos emocionais com sensibilidade e potência. “Você começa o disco abrindo um baú de sonhos e termina em Alcatraz — mas não como prisão, e sim como libertação”, conta Pazini. “As músicas falam sobre tempo, amadurecimento, amor, dor, distância… é uma narrativa cheia de camadas.”
A banda, composta por Gabriel Pazini, Lucas Eufrosino (baixo, guitarra, voz) e Vitor Moura (bateria), tem se firmado como um dos nomes mais criativos da nova geração da música alternativa. Em Morrer pra Renascer, a pluralidade de influências se transforma em identidade: dos delays lisérgicos à introspecção poética inspirada em Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu, tudo é pensado para provocar sensações múltiplas.
A faixa “0402” é um bom exemplo: começa doce e contemplativa, com violão e guitarras etéreas, e ganha força de forma repentina com distorções, vocais carregados de drive e solos dançantes — um reflexo da montanha-russa emocional que a própria vida representa. Já “Estações”, favorita do compositor, é descrita como uma das letras mais poéticas da banda, enquanto “Alcatraz” encerra o EP com a promessa de liberdade e recomeço.
Gravado de forma independente e distribuído pela Ditto Music — mesma distribuidora que lançou os primeiros trabalhos de Ed Sheeran e Sam Smith — o EP tem arte assinada pela multiartista mineira Lua Catake. É também o primeiro capítulo de uma trilogia que já tem sua segunda parte finalizada e a terceira em processo de produção.
“O que apresentamos aqui é só o começo. Queremos continuar misturando sons e sensações, provocando o ouvinte e quebrando expectativas. Não viemos pra fazer o que todo mundo faz”, dispara Pazini, em tom de manifesto.
A Falso Morel não apenas faz rock — ela reinventa, reintegra e reencanta. Com Morrer pra Renascer, a banda firma sua identidade como um dos projetos mais inovadores da cena independente nacional e nos convida a morrer com eles… pra renascer em som, poesia e liberdade.