Zé Ninguém: o poeta marginal que transforma as ruas de Sorocaba com arte e resistência
As ruas da vibrante Sorocaba, interior paulista que pulsa cultura por todos os poros, vêm sendo tomadas por uma voz insurgente, poética e necessária: a de Zé Ninguém, pseudônimo do jovem Gabriel Gomes de Almeida, morador da zona norte da cidade. Com um caderno na mão e palavras afiadas na língua, ele caminha por terminais, praças, ônibus e vielas declamando versos que escancaram dores, sonhos e revoluções cotidianas.
Gabriel é mais do que um poeta de rua — é um agente cultural que se recusa a esperar por convites ou palcos tradicionais. Criador do projeto “Trincheira”, uma proposta independente de slam poetry (a poesia falada em formato de competição), ele vem oxigenando a cena poética local com vigor e urgência. O objetivo? Romper muros simbólicos e oferecer espaço para que novos artistas — especialmente das periferias — possam se expressar com liberdade e potência.
“A arte transforma e remolda tudo ao nosso redor”, afirma Zé Ninguém. E é com essa crença inabalável que ele também lidera a construção de outro projeto, ainda em fase embrionária, mas igualmente pulsante: o “Terra de Ninguém”. A proposta é clara e direta — levar arte para espaços públicos informais, como terminais de ônibus e ruas do centro, alcançando quem tem menos acesso a iniciativas culturais.
A trajetória de Gabriel é um ato contínuo de resistência e esperança. Para ele, o slam não é sobre vencer ou perder. “Seja você mesmo, se solte e nunca esqueça da sua essência. […] O verdadeiro campeão é sempre a poesia”, diz, com o brilho nos olhos de quem sabe o poder que um verso pode ter na vida de alguém à margem.
Zé Ninguém é mais um entre tantos artistas invisibilizados pelo mainstream, mas que fazem da rua seu palco e da palavra sua arma. Em tempos de apagamento cultural e desmonte das políticas públicas para a arte, figuras como ele lembram que ainda há trincheiras sendo erguidas — e nelas, a poesia segue resistindo.