Bellízio transforma confusão e solidão em arte pop no single “História Mal Escrita”
“Eu não lembro o que eu fiz da minha vida.”
A frase que abre “História Mal Escrita” soa como um sussurro perdido entre ressaca e arrependimento, mas é também o fio condutor do novo single de Bellízio — um artista que estreia no cenário independente misturando indie pop, rock alternativo e arranjos eletrônicos para contar histórias partidas de dentro para fora.
Canção que dá nome ao álbum de estreia, “História Mal Escrita” é mais do que um desabafo: é um retrato honesto da solidão contemporânea. Bellízio (nome artístico de Belizio Feitosa Beserra) constrói, com lirismo urbano e uma produção cuidadosamente caótica, a trilha sonora de quem acorda sem saber onde está — nem quem se tornou.
Nos primeiros versos, somos jogados na rotina apática de um jovem adulto moderno: notificações ignoradas, memórias borradas da noite anterior e uma sensação constante de atraso — com a vida, com os sonhos, consigo mesmo. Mas Bellízio não se acomoda no óbvio. Ele transforma essas angústias em camadas sonoras que flutuam entre o eletrônico introspectivo e a tensão elétrica do rock, tudo embalado por uma voz que cresce aos poucos, até transbordar.
“Mensagens perdidas / Quem são todas essas meninas?”
“A minha volta vejo almas de papel.”
Em versos como esses, o artista escancara a superficialidade dos vínculos e a mecanização das relações — temas centrais de uma geração que tenta sobreviver entre o ruído digital e o silêncio emocional. Com estruturas que se repetem para reforçar o labirinto emocional do personagem, a música mergulha em um ciclo de contradições: ora íntimo, ora distante; ora confessional, ora anestesiado.
A produção acerta ao empilhar camadas: sintetizadores que parecem ecos de pensamentos desorganizados, guitarras que lembram os dias de glória do alt rock dos anos 2000, e uma levada melódica que encontra beleza mesmo na bagunça. O clímax surge na linha “amantes de aluguel”, quando Bellízio sobe a voz e transforma vulnerabilidade em grito — rasgado, sincero, impossível de ignorar.
Ainda à margem do mainstream, Bellízio aposta no caminho da autenticidade. Longe de personagens fabricados, ele canta a si mesmo — suas falhas, noites mal dormidas, paixões desastradas e buscas por sentido. E é justamente essa exposição emocional que o aproxima de uma nova leva de artistas independentes, marcada por estética lo-fi, produções intimistas e uma urgência por conexão real.
“História Mal Escrita” é o retrato de uma vida sem roteiro, mas com algo a dizer. E Bellízio diz — mesmo quando tudo parece bagunçado. Mesmo quando o final da história ainda não chegou.
Acompanhe Bellízio nas redes:
Por Lía Montero